Gisela Hironaka é uma mulher muito especial. É uma das maiores juristas que eu ja cruzei, uma das maiores referências em Direito de Família, além de doce, delicada, acessível. É dela a frase “o Direito de Família é mais baseado na afetividade do que na estrita legalidade”, que deveria ser entalhada em placas a serem expostas em todas as salas de audiência nas varas de família. Acredito piamente que o afeto é a razão de existir das famílias, que se pautam também pela dignidade da pessoa humana, da solidariedade familiar, da igualdade, da supremacia do interesse das crianças. E é dela a Teoria do Desamor, um mecanismo que discute a possibilidade de indenização pelo pai que, mesmo tendo cumprido a obrigação de ajudar financeiramente o filho, não o fez no aspecto emocional. Eu concordo plenamente com essa tese, e explico.
Todo mundo é livre para fazer o que quiser, desde que assuma as consequencias dos seus atos. Duas vidas juntas podem dar origem a uma nova vida, e nem sempre as primeiras estão preparadas para deixar o verbo virar carne. É por isso que o início da vida sexual precisa ser muito bem pensado, planejado e cuidado, como as coisas importantes da vida devem ser. Filho é a melhor parte de um ser humano, mas continuar a vida através de um novo ser faz também com que percamos uma parte da nossa liberdade. Não estar mais sozinhos no mundo significa tomar decisões que nem sempre facilitam nossa existência. Quando se é pai ou mãe, é preciso ter em mente que a felicidade própria não é mais conceito absoluto, e certas coisas deverão ser deixadas de lado, sim, para o bem de todos e felicidade geral da filiação.
Mas tem gente que não pensa assim. Que se multiplica por aí e não abre mão do projeto pessoal sob nenhuma hipótese. Que passa por cima de tudo e de todos, sem pensar em nada, principalmente naqueles a quem se deve amor, proteção, presença. Eu não estou falando dos pais ou mães que, por razões várias, se separaram dos seus cônjuges mas permanecem atentos e vigilantes aos filhos; falo daqueles indivíduos que se recusam a exercer o ofício divino da paternidade ou da maternidade. Do abandono, puro e simples.
Tem gente que acha que ninguém é obrigado a amar ninguém. TODOS são dignos de amor e respeito. Posso garantir que Nosso Pai não faz qualquer distinção entre o assassino cruel, o menino num leito de hospital, a velhinha de joelhos na igreja. Somos todos amados por Nosso Senhor, pois foi Ele quem nos criou. Dignidade inclui também a possibilidade de ser amado, de ter um pai, uma história de vida. Não é normal uma pessoa não nutrir qualquer sentimento pela metade da sua genética. Jacqueline Kennedy dizia que os padres são pessoazinhas chatas, mas eles entendem da morte; e eu acrescento que amor é assunto de Deus. O cristianismo tem como premissa a ideia de que a sexualidade só deve ser exercida na proteção do afeto mútuo, e eu concordo com isso. Por mais que haja a tal da proteção física, uma gravidez pode ocorrer – e o egoísmo precisa acabar quando aparece o segundo risquinho no teste de gravidez. Quem não tem capacidade alguma de doar seu coração não deve ter o direito de doar seu corpo para ter vida sexual, pronto, falei. Não adianta ser fértil em gametas: é preciso ser urgentemente reprodutivo em emoções.
Não dar amor é o maior de todos os pecados, o mais grave de todos os crimes, é ato cravado de toda ilicitude. Quem o deixa de fornecer a quem merecia recebê-lo comete uma infração apenada pelo maior de todos os juízes. E qualquer condenação, por mais severa que seja, é pouca diante do que deverá ser respondido no tribunal celestial, na verdadeira última instância.
Gostei muito do texto, penso que o direito realmente precisa de operadores cristãos… gente que conheça o amor de Deus e aplique isso a sua vida, porque isso se transpõe… to fascinada. Parabéns.
Texto fantástico!Concordo também com a seguinte colocação:-quem não tem capacidade alguma de doar seu coração não deve ter o direito de doar seu corpo para ter vida sexual!!!Se realmente todo aquele que cometesse esse ato impensado fosse punido de verdade,não existiriam tantas crianças carentes tornando-se adultos delinquentes pela falta e desinteresse de quem os colocou no mundo e os jogou no lixo.